SOCIEDADE E MÉTODOS DE CONTROLE Quando o homem finalmente se fixa em um espaço e começa a perceber a possibilidade de sobreviver em determinada região por conta de seu desenvolvimento na agricultura, tem-se o início de um processo de formação de comunidades que caminhariam para o surgimento das cidades. Agora, a organização sedentária permite ao homem acumular sua produção e avançar na busca de técnicas que melhorem sua vida. Torna-se autossuficiente e administrador do excedente. Urbaniza-se. As condições climáticas, relevo, ambiente e ecossistema influenciaram os meios pelos quais as sociedades antigas se organizaram e se desenvolveram de modo a se instalarem e abrangerem as cidades em torno daquilo que as alimentavam. A administração egípcia é prova de que a partir dela, objetiva, calculada e planejada, a sociedade caminharia para o desenvolvimento naturalmente. Dessa forma, a necessidade de controlar o meio foi, e continua sendo, o que move o homem. A incansável busca por tentar melhorar aquilo que tem em determinada época a qual passa adiante descobertas e avanços para as gerações futuras. Assim, hoje, pode-se notar que herdamos das sociedades antigas a maneira de se conviver, seja em harmonia ou não, seja em igualdade ou conflito, mas o fato é que descendemos de aspectos que surgiram lá no passado, como a necessidade de buscar o novo, de transmitir nossos conhecimentos, garantindo, dessa forma, uma perpetuação da espécie. A civilização de maneira ampla e coerente deve ser entendida como um grupo organizado politicamente que já possui relação entre dominantes e dominados como uma forma, mesmo que embrionária, de um governo, trabalho e projeto para a coletividade, órgãos que respondam diretamente ao poder central, a uma religiosidade, vinculada ao poder central, e se manifesta por crenças difundidas entre a sociedade, podendo aparecer a escrita, como no caso egípcio e mesopotâmico ou ausente entre os Incas. Logo, é possível identificar que até hoje vivemos sob esses pilares de organização social. Essa engrenagem se desenvolvia e alimentava o próprio processo, visto que a cada espaço conquistado, através da adaptação, instrumentos e recursos dominados pelo homem, a demanda aumentava proporcionalmente, exigindo mais desenvolvimento, recursos materiais e humanos para que o sistema funcionasse. Parece que aquela vontade de sempre ter nunca cessa. Com a sociedade caminhando para a urbanização e civilidade, era natural que surgisse a figura central de poder e, há milhares de anos, surgiram os reis, como no Antigo Egito ou na Mesopotâmia, os quais centralizavam o poder e o controle político, social, econômico e cultural de suas sociedades. Partiam deles as regras, os códigos, os limites impostos a todos e aceitos naturalmente pela comunidade, pois o que ele fazia era em prol da coletividade, a manutenção da ordem de todos. Fugir às regras poderia comprometer todo o andamento do processo civilizatório que aqueles homens percorriam naquele momento e era necessário seguir tais regras de conduta para que o caos em sociedade fosse contido. Quando os reis egípcios e sumérios ultrapassaram a necessidade coletiva e perceberam que o poder lhes permitia muito mais que coordenar uma sociedade, surgia a religião – não que ela já não existisse, mas assumia mais um papel social - como parceira para legitimar sua posição de hierarquia diante da sociedade. No Egito, os reis eram a própria divindade e na Mesopotâmia eram autenticadas peles deuses. E o papel da religião era fundamental naquele momento, pois ela, porta-voz dos deuses, viria reger a ordem divina sobre a terra e dizer que o rei deveria ser obedecido, seguido.
Fabiano Pio da Silva Referências: BASTOS, Alcmeno. O índio antes do indianismo. Rio de Janeiro, 7Letras: FAPERJ 2011. VIEIRA, Henrique. Fundamentalismo e extremismo não esgotam experiencia do sagrado nas religiões. In. O ódio como política: a reinvenção da direita no Brasil. Org. Esther Solano Gallego. São Paulo. Boitempo: 2018.
(...) A união entre poder e religião equilibrava o regime presente na sociedade antiga, estabelecendo a ordem social e a hierarquização coletiva dos indivíduos. Assim sendo, o rei, aquele que detinha o poder governaria enquanto que a religião, a qual o legitimava, ficaria responsável por garantir a conduta irrestrita sem questionamentos diante do governante. Durante séculos, ainda percebemos que essa relação persistiu e fundamentou diversas conquistas nas idades Média, Moderna e Contemporânea. Especialmente na Europa vimos a Igreja abraçada com a Monarquia dizendo ao povo que aquele sistema era válido pelas mãos de Deus enquanto que recebia sua participação com pagamentos e dízimos. Hoje, ainda percebemos que esta relação ainda está no meio da sociedade, quando política e religião se confundem e caminham lado a lado, a primeira sendo convalidada pela segunda, em nome de Deus. “No Brasil ocorre, ademais, a articulação entre setores fundamentalistas cristãos, especialmente evangélicos, e o poder político, institucional e midiático. Esse fenômeno está em franca ascensão e tem influenciado cada vez mais as pautas dos poderes legislativos municipais e estaduais, assim como do Congresso Nacional” (VIEIRA, 2018:91). Assim, não só no caso particular do Brasil, pode-se perceber que Religião e Política sempre estiveram aliadas a fim de manterem seus interesses. Na época das grandes navegações, a título de exemplo, os países colonizadores usavam a palavra divina como forma de legitimar sua posição como dominantes diante de outras sociedades, com o intuito de prevalecer sua vontade, regra, dogma e cultura. Retomando ao caso do Brasil, mas lá em 1500, a catequização dos indígenas, através dos jesuítas, impunha a aculturação nativa em prol do Cristianismo e, ao mesmo tempo, a Coroa portuguesa se valia desse caminho para angariar mais e mais recursos naturais, fortalecendo seu poder e o domínio sobre os dominados. “A mais esdrúxula de todas as observações sobre a ausência de um poder formalmente constituído, secular ou sagrado, (...) foi pela primeira vez formulada por Gândavo, 1576 e dizia respeito à ausência de letras F, L e R na língua dos índios brasileiros. Segundo ele, isso significaria não terem os índios “nem Fé, nem Lei, nem Rei” (BASTOS, 2011:37).
Fabiano Pio da Silva Referências: BASTOS, Alcmeno. O índio antes do indianismo. Rio de Janeiro, 7Letras: FAPERJ 2011. VIEIRA, Henrique. Fundamentalismo e extremismo não esgotam experiencia do sagrado nas religiões. In. O ódio como política: a reinvenção da direita no Brasil. Org. Esther Solano Gallego. São Paulo. Boitempo: 2018.
De acordo com o texto indicado, creio que o que havia de mais atual na sociedade egípcia antiga era a ideia de o homem ser composto por partes que integram um todo: força vital, essência moral e espírito, ou seja, o Ka, o Bah e o Akh, respectivamente. Esta ideia de interação entre o corpo e a mente era tão avançada, a meu ver, que muitos escritores posteriores a esta civilização trataram deste tema, como Platão, Aristóteles e Descartes, inclusive. No artigo “Conceito mente e corpo através da história” ¹, há a citação de que Demócrito, filósofo grego, via o corpo como uma habitação natural da alma. Ainda hoje estas interações entre o material e o imaterial são objetos de pesquisa, já apontados pelos egípcios em sua época. Dentre os temas abordados no artigo de Marina Rockenback, quais sejam, os mitos, os rituais e os valores sociais, algo que permanece na sociedade atual é a dualidade que os mitos apresentavam. Ainda que estes mitos explicassem a morte de forma diferente com a qual nossa sociedade costuma lidar, estes símbolos dualistas ainda são vistos. Ao contrário de nosso meio, “para os egípcios antigos, a morte não era algo ruim, apenas uma transição, uma etapa” (Rockenback, 2013, pág.170). Dai o motivo de os egipcios prepararem os mortos para a passagem, mumificando-os e adicionando seus pertences à tumba, como se vê no exemplo da máscara mortuária de Tutancâmon. Farthing² cita que segundo os preceitos da religião egípcia, a preservação dos restos mortais era considerada essencial para que a alma do faraó pudesse renascer após a morte (Farthing, 2010, pág.33). Isso, é claro, passado pelo julgamento de Osíris. E segue a visão maniqueísta fazendo parte de muitas culturas atuais. O cristianismo, por exemplo, uma das religiões mais difundidas em nossa sociedade, baseia-se nos conceitos de bem e mal, aspectos duais já identificados nos mitos egípcios.
Flávia Cavalcanti da Silva Villa Lobos.
¹CASTRO,Maria da Graça de;ANDRADE,Tania M.Ramos;MULLER,Marisa C.Conceito mente e corpo através da história. Maringá,2006. ²FARTHING,Stephen. Tudo sobre arte. Rio de Janeiro, Sextante, 2010.
SOCIEDADE E MÉTODOS DE CONTROLE
ResponderExcluirQuando o homem finalmente se fixa em um espaço e começa a perceber a possibilidade de sobreviver em determinada região por conta de seu desenvolvimento na agricultura, tem-se o início de um processo de formação de comunidades que caminhariam para o surgimento das cidades. Agora, a organização sedentária permite ao homem acumular sua produção e avançar na busca de técnicas que melhorem sua vida. Torna-se autossuficiente e administrador do excedente. Urbaniza-se.
As condições climáticas, relevo, ambiente e ecossistema influenciaram os meios pelos quais as sociedades antigas se organizaram e se desenvolveram de modo a se instalarem e abrangerem as cidades em torno daquilo que as alimentavam. A administração egípcia é prova de que a partir dela, objetiva, calculada e planejada, a sociedade caminharia para o desenvolvimento naturalmente.
Dessa forma, a necessidade de controlar o meio foi, e continua sendo, o que move o homem. A incansável busca por tentar melhorar aquilo que tem em determinada época a qual passa adiante descobertas e avanços para as gerações futuras. Assim, hoje, pode-se notar que herdamos das sociedades antigas a maneira de se conviver, seja em harmonia ou não, seja em igualdade ou conflito, mas o fato é que descendemos de aspectos que surgiram lá no passado, como a necessidade de buscar o novo, de transmitir nossos conhecimentos, garantindo, dessa forma, uma perpetuação da espécie.
A civilização de maneira ampla e coerente deve ser entendida como um grupo organizado politicamente que já possui relação entre dominantes e dominados como uma forma, mesmo que embrionária, de um governo, trabalho e projeto para a coletividade, órgãos que respondam diretamente ao poder central, a uma religiosidade, vinculada ao poder central, e se manifesta por crenças difundidas entre a sociedade, podendo aparecer a escrita, como no caso egípcio e mesopotâmico ou ausente entre os Incas. Logo, é possível identificar que até hoje vivemos sob esses pilares de organização social.
Essa engrenagem se desenvolvia e alimentava o próprio processo, visto que a cada espaço conquistado, através da adaptação, instrumentos e recursos dominados pelo homem, a demanda aumentava proporcionalmente, exigindo mais desenvolvimento, recursos materiais e humanos para que o sistema funcionasse. Parece que aquela vontade de sempre ter nunca cessa.
Com a sociedade caminhando para a urbanização e civilidade, era natural que surgisse a figura central de poder e, há milhares de anos, surgiram os reis, como no Antigo Egito ou na Mesopotâmia, os quais centralizavam o poder e o controle político, social, econômico e cultural de suas sociedades. Partiam deles as regras, os códigos, os limites impostos a todos e aceitos naturalmente pela comunidade, pois o que ele fazia era em prol da coletividade, a manutenção da ordem de todos. Fugir às regras poderia comprometer todo o andamento do processo civilizatório que aqueles homens percorriam naquele momento e era necessário seguir tais regras de conduta para que o caos em sociedade fosse contido.
Quando os reis egípcios e sumérios ultrapassaram a necessidade coletiva e perceberam que o poder lhes permitia muito mais que coordenar uma sociedade, surgia a religião – não que ela já não existisse, mas assumia mais um papel social - como parceira para legitimar sua posição de hierarquia diante da sociedade. No Egito, os reis eram a própria divindade e na Mesopotâmia eram autenticadas peles deuses. E o papel da religião era fundamental naquele momento, pois ela, porta-voz dos deuses, viria reger a ordem divina sobre a terra e dizer que o rei deveria ser obedecido, seguido.
Fabiano Pio da Silva
Referências:
BASTOS, Alcmeno. O índio antes do indianismo. Rio de Janeiro, 7Letras: FAPERJ 2011.
VIEIRA, Henrique. Fundamentalismo e extremismo não esgotam experiencia do sagrado nas religiões. In. O ódio como política: a reinvenção da direita no Brasil. Org. Esther Solano Gallego. São Paulo. Boitempo: 2018.
(...) A união entre poder e religião equilibrava o regime presente na sociedade antiga, estabelecendo a ordem social e a hierarquização coletiva dos indivíduos. Assim sendo, o rei, aquele que detinha o poder governaria enquanto que a religião, a qual o legitimava, ficaria responsável por garantir a conduta irrestrita sem questionamentos diante do governante. Durante séculos, ainda percebemos que essa relação persistiu e fundamentou diversas conquistas nas idades Média, Moderna e Contemporânea. Especialmente na Europa vimos a Igreja abraçada com a Monarquia dizendo ao povo que aquele sistema era válido pelas mãos de Deus enquanto que recebia sua participação com pagamentos e dízimos. Hoje, ainda percebemos que esta relação ainda está no meio da sociedade, quando política e religião se confundem e caminham lado a lado, a primeira sendo convalidada pela segunda, em nome de Deus.
ResponderExcluir“No Brasil ocorre, ademais, a articulação entre setores fundamentalistas cristãos, especialmente evangélicos, e o poder político, institucional e midiático. Esse fenômeno está em franca ascensão e tem influenciado cada vez mais as pautas dos poderes legislativos municipais e estaduais, assim como do Congresso Nacional” (VIEIRA, 2018:91). Assim, não só no caso particular do Brasil, pode-se perceber que Religião e Política sempre estiveram aliadas a fim de manterem seus interesses. Na época das grandes navegações, a título de exemplo, os países colonizadores usavam a palavra divina como forma de legitimar sua posição como dominantes diante de outras sociedades, com o intuito de prevalecer sua vontade, regra, dogma e cultura.
Retomando ao caso do Brasil, mas lá em 1500, a catequização dos indígenas, através dos jesuítas, impunha a aculturação nativa em prol do Cristianismo e, ao mesmo tempo, a Coroa portuguesa se valia desse caminho para angariar mais e mais recursos naturais, fortalecendo seu poder e o domínio sobre os dominados. “A mais esdrúxula de todas as observações sobre a ausência de um poder formalmente constituído, secular ou sagrado, (...) foi pela primeira vez formulada por Gândavo, 1576 e dizia respeito à ausência de letras F, L e R na língua dos índios brasileiros. Segundo ele, isso significaria não terem os índios “nem Fé, nem Lei, nem Rei” (BASTOS, 2011:37).
Fabiano Pio da Silva
Referências:
BASTOS, Alcmeno. O índio antes do indianismo. Rio de Janeiro, 7Letras: FAPERJ 2011.
VIEIRA, Henrique. Fundamentalismo e extremismo não esgotam experiencia do sagrado nas religiões. In. O ódio como política: a reinvenção da direita no Brasil. Org. Esther Solano Gallego. São Paulo. Boitempo: 2018.
De acordo com o texto indicado, creio que o que havia de mais atual na sociedade egípcia antiga era a ideia de o homem ser composto por partes que integram um todo: força vital, essência moral e espírito, ou seja, o Ka, o Bah e o Akh, respectivamente. Esta ideia de interação entre o corpo e a mente era tão avançada, a meu ver, que muitos escritores posteriores a esta civilização trataram deste tema, como Platão, Aristóteles e Descartes, inclusive. No artigo “Conceito mente e corpo através da história” ¹, há a citação de que Demócrito, filósofo grego, via o corpo como uma habitação natural da alma. Ainda hoje estas interações entre o material e o imaterial são objetos de pesquisa, já apontados pelos egípcios em sua época.
ResponderExcluirDentre os temas abordados no artigo de Marina Rockenback, quais sejam, os mitos, os rituais e os valores sociais, algo que permanece na sociedade atual é a dualidade que os mitos apresentavam. Ainda que estes mitos explicassem a morte de forma diferente com a qual nossa sociedade costuma lidar, estes símbolos dualistas ainda são vistos. Ao contrário de nosso meio, “para os egípcios antigos, a morte não era algo ruim, apenas uma transição, uma etapa” (Rockenback, 2013, pág.170). Dai o motivo de os egipcios prepararem os mortos para a passagem, mumificando-os e adicionando seus pertences à tumba, como se vê no exemplo da máscara mortuária de Tutancâmon. Farthing² cita que segundo os preceitos da religião egípcia, a preservação dos restos mortais era considerada essencial para que a alma do faraó pudesse renascer após a morte (Farthing, 2010, pág.33). Isso, é claro, passado pelo julgamento de Osíris. E segue a visão maniqueísta fazendo parte de muitas culturas atuais. O cristianismo, por exemplo, uma das religiões mais difundidas em nossa sociedade, baseia-se nos conceitos de bem e mal, aspectos duais já identificados nos mitos egípcios.
Flávia Cavalcanti da Silva Villa Lobos.
¹CASTRO,Maria da Graça de;ANDRADE,Tania M.Ramos;MULLER,Marisa C.Conceito mente e corpo através da história. Maringá,2006.
²FARTHING,Stephen. Tudo sobre arte. Rio de Janeiro, Sextante, 2010.